Resenha do filme “A MISSÃO”

Dirigido por Rolland Joffé, com roteiro de Robert Bolt, o filme “A Missão” (1986) trata sobre os conflitos que envolveram os jesuítas, as Coroas Ibéricas e com o Papa, culminando na expulsão dos primeiros em meados do século XVIII. O palco é a região de Sete Povos das Missões, disputada por espanhóis e portugueses, mas que com a assinatura do Tratado de Madrid (1750), foi finalmente reconhecida como possessão lusitana. O protagonista, um violento mercador de escravos, entra para a Ordem dos jesuítas como uma forma de se redimir dos seus pecados (ele matara seu irmão por um crime passional). Assim, de um carrasco, ele se torna um defensor dos índios contra os colonos sedentos por lucros, e contra os interesses das Coroas Ibéricas que começaram a ver nos missionários um grande inconveniente.

Embora tivessem como objetivo a difusão da fé e a conversão dos nativos, as missões acabaram como mais um instrumento do colonialismo, onde em troca do apoio político da Igreja, o Estado se responsabilizava pelo envio e manutenção dos missionários, pela construção de igrejas, além da proteção aos cristãos, o que é conhecido como regime de padroado. Na análise de Darcy Ribeiro em As Américas e a civilização, as missões caracterizaram-se como a tentativa mais bem sucedida da Igreja Católica para cristianizar e assegurar um refúgio às populações indígenas, ameaçadas de absorção ou escravização pelos diversos núcleos de descendentes de povoadores europeus, para organizá-las em novas bases, capazes de garantir sua subsistência e seu progresso. Darcy também cunha a expressão Império mercantil salvacionista, para marcar a ideia de que as possessões ibéricas no Novo Mundo se constituiram como proletariado externo de caráter dependente, ligado à dominação no âmbito cultural/simbólico/religioso que impunha a doutrina cristà sob a máscara da “salvação” dos índios pelos jesuítas.

É portanto a partir da união entre Estado nacional e Igreja católica que vai se efetivar a colonização no Novo Mundo, substanciado no regime do padroado. Porém, com as novas ideias iluministas que irão marcar todo o século XVIII, esse estado de coisas entrará em crise, uma vez que um dos alvos de maior crítica era exatamente o tradicionalismo católico e a irracionalidade da ordem absolutista. A ascenção de Pombal em Portugal acelerou ainda mais esse processo, e em 1759, os jesuítas são expulsos do Brasil. Porém, aos índios nada melhorou, pois muitos deles já estavam aculturados e deculturados pelas próprias missões jesuíticas. Além disso, eles ainda ficavam totalmente expostos aos colonos, cujo objetivo não era “salvar”, mas “escravizar” os nativos.

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